quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A quantas anda sua memória audiovisual?

Penso algo engraçado sobre as criações publicitárias, especificamente os comerciais de TV. Quando bem feitas, têm a capacidade de impregnar em nós toda sua estrutura narrativa, o desenvolvimento dos personagens, a fabulação criada para vender algum produto ou serviço. Me impressiona a forma como o excesso de sentidos alí propostos se ramificam, se consolidam, e geram um puncto que, de tão consolidado pela repetição, redondamente se tornam naturalizados, e até materializados.

Em muitos desses casos eu me pego recordando cada detalhe. No entanto (não sei se isso acontece com você, se é um fator neurológico, como déficit de aprendizagem, enfim, não cabe aqui falar disso), em muitas das ocasiões eu não consigo me recordar da causa primitiva que orienta e financia a confecção desses próprios comerciais: noto que tanto o NOME ou MARCA do produto não estão na mesma pasta ou arquivo em minha cognitive black box!

Acontece com você?

Muito se fala da evolução publicitária, mas em que sentido? Será que apenas aprovar um orçamento hollywoodiano e despejar dinheiro nas mãos de agências (e de suas equipes criativas que não sabem muito de criação), é capaz de alcançar as estimativas dos executivos de grandes empresas? Será que a hiper-valorização do refinamento audiovisual funciona com qualquer produto? Será que, ao invés de vender uma coisa, o maior trunfo alcançado por um trabalho desse é “ser comprado” como uma coisa tão coisa quanto a coisa que se propôs a vender (ou a coisar)?

Pense AGORA (e responda!!!): Qual comercial está em sua mente AGORA? NÃO VALE lembrar de um trecho e procurar por dados na rede.

Na minha mente está um da rede Insinuante – “A Senha” (a da semana é o numeral 10, se alguém se interessar pelo desconto). Lojão, varejão de eletrodomésticos, que adota a mesma filosofia do Ricardão – vender barato para vender muito (e lucrar milhões só em juros). Como se refina um comercial desses? Como retirar os splashs (thanks, Batman & Robin), a voz de locutor de rodeio, a multidão correndo loja adentro, atropelando vendedores e carregando nas costas tudo o que conseguir? (o frete é por sua conta!!!).

É uma CARNIFICINA! Mas eu me lembro de todos os detalhes, e inevitavelmente a marca sempre chega junto.

SERÁ QUE uma proximidade estética com a linguagem do cinema pode colaborar com a dissociação cognitiva entre marca e produto? É um caso a se pensar...

Hoje mesmo me lembrei de um (não tão refinado, mas que trabalha bem seus elementos plásticos) em que o sujeito chega em casa, vai até a cozinha com a intenção de beber água. Lá chegando, se depara com uma pilha de copos, talheres, larvas, pratos, vixe, empilhados dentro e em volta da pia. Sem ter como beber, entorta-se todo para colocar a boca sob a torneira, deixando a água escorrer. Imagino que ele deve ter tido um dia cheio, como, por exemplo, o meu: durante toda a manhã finalizei a preparação de dois artigos em inglês para apresentar (midia effects – agenda setting); pela tarde tive o seminário (mas o professor não me chamou para apresentar). Vou para casa cantando mas a melodia não era das mais apropriadas: “Paciência”, do Lenine. Adoro, mas eu pensava que não podia me dar ao luxo de ter mais paciência naquele momento! Só se fosse para virar hippie!

Sabia eu que ainda deveria preparar a apresentação do dia seguinte das 127 páginas restantes do livro “a idade neobarroca” de Calabrese. A última coisa na qual pensaria era lavar um copo! SEMI-PRESSA RLZ!!!. Achei melhor guardar mais tempo para este pequeno relato-fabulado. Inclusive, sua inspiração veio através de um decalque da propaganda acima, pois não lavei o copo: me entornei sob a torneira.

Molares e anelares, RECAPITULEM!!!

With this in your cognitive black magical box, saiba que, mesmo já tendo assistido ao comercial da torneira por algumas vezes, simplesmente não consigo recordar a marca, tão menos o tipo de produto (mas agora penso que pode ser cerveja... Mas nem ouse me perguntar qual marca!).

Por enquanto é isso.

Debate aberto, e contando os headshots pseudo-acadêmicos!