quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Feira de São Joaquim


Post imagético.

Significa que não poderei escrever? Quase. Na verdade, hoje foi um dia daqueles, agitados como o sujeito semi-pressa não costuma curtir muito. Agora, já tarde da noite, o sono bate e eu aqui, lutando contra ele. Mas por qual motivo, já que estou cansado? Agora que consigo realmente relaxar, acredito que, dormindo, eu não aproveitarei o momento - por mais que precise dormir.

Poder curtir o descanso invariavelmente me faz lembrar da vida em terras soteropolitanas. Abaixo algumas fotos que ativam queridos fragmentos de minha memória. Fragmentos que, assim como eu, preferem poder descansar boa parte do tempo para serem eficientes quando convocados.

Fiz estas fotos na Feira de São Joaquim, em Salvador. Um lugar espetacular, diferente de qualquer outro mercado que já vi, e o qual eu fazia questão de apresentar aos que de fora iam passear por lá e com disposição para realmente compreender do que é feita aquela cidade. Ah sim, era lá também que eu comprava as melhores lambretas, siris, camarões, etc. Mas é um lugar abandonado pelo Estado, pela vigilância sanitária, pelas rotas depreciativas daquele tipo de turismo mais invasivo culturalmente, mas que, exatamente por isso tudo, consegue conservar uma precariedade estética agressiva, chocante em alguns momentos, mas de autenticidade inabalável.

Gostaria que as fotos fossem realmente capazes de transportar um pouco disso.

Ah sim, eu adoro estragar as fotos com Photoshop.




















 


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O post mais longo do ano! Ou não...


Fico triste de não conseguir escrever aqui no blog o quanto gostaria. Penso, inclusive, no quanto me seria útil uma ferramenta capaz de traduzir, num imediatismo perfeito que só, meus pensamentos em textos facilmente editáveis em qualquer editor de texto.

(Mesma frase contendo tantas quase repetições? Ah, moleque!)

Inclusive, um dos posts que estão na "bala da agulha" para serem postados se refere exatamente a um paliativo tipo de tecnologia super avançada de preservação / manutenção / acervo da minha memória efêmera: o celular.

Pela primeira vez possuo um aparelho capaz de registrar falas dignas de serem postadas aqui, e isso com excelente facilidade de ativação e acesso, além da boa qualidade do material gravado. Já havia tentado antes fazê-lo com badulaques do tipo MP3 Players, mas sem o conforto necessário para uma preservação do distanciamento do pensamento em relação ao suporte.

Para quem não entendeu, é o seguinte: gravar minhas falas em um MP3 Player "chinês" implica em uma série de manobras necessárias para ativar o sistema de gravação do aparelho. Até conseguí-lo, subjetivamente eu já ficava razoavelmente condicionado ao fato de estar gravando minha voz, o que acabava inserindo no processo um nível metalinguístico maior do que o desejado.

A lógica é parecida com a da adoção de uma performance específica, subjetiva e não natural, por parte de sujeitos entrevistados com uma câmera apontando para sua fuça. Mais ou menos isso. E o bacana do meu celular é que, com apenas dois "cliques", o gravado de áudio já está acionado. Perfeito!

Mas dois novos problemas passam a me incomodar a partir da aclamada então solucionática:

1) Em qual ambiente e qual o nível de privacidade eu terei para registrar em voz alta meus devaneios?

2) Qual a possibilidade de minha voz conseguir alcançar a velocidade dos meus pensamentos?

Sobre essas questões tratarei no próximo post. De alento, fica apenas o fato de que cientistas descobriram recentemente, por meio de exames no cérebro ainda conservado "em conserva" de Albert Einstein, que o renomado físico possuía a mesma dificuldade de traduzir em palavras o que pensa. Ou melhor, possuía a mesma qualidade de pensar mais rápido do que sua fala ou escrita pudessem acompanhar.

Boa noite.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Rei do Caldo de Mocotó

Nova postagem + Fonte "Georgia" + Fotos "Nonô, Rei do caldo de Mocotó".

Estou fazendo um curso cuja carga horária não é das mais agradáveis: de segunda a quinta, das 18h30 às 21h. O bacana mesmo é o fato de a escola se localizar no centrão de BH, o que faz meu cérebro ativar as mais diversas lembranças da região durante o meu trajeto de ida e volta.

Numa dessas não resisti, e, após uns bons 8 anos sem passar por lá, encarei a experiência antropológica de parar no Nonô, o Rei do caldo de mocotó (o da Amazonas, crássico), e me deliciar com os papos de bebum, as guloseimas super saudáveis e o banheiro mais asséptico do universo. Detalhe - o único banheiro do estabelecimento tem grafado "ELE" na porta. Já dá para se ter uma idéia do nível... E tudo isso em uma segundona insana.

De cara vejo a plaquinha: "Abrimos às 6h de segunda, fechamos às 18h de domingo. Funcionamos 24h". Adoro este tipo de disposição. Me lembro de uma vez, em 1998, ter parado lá, por volta das 00h, para tomar um caldo de mocotó. A lembrança flui perfeitamente: eu, Saulo e Tiago Gontijo saímos a pé do Santo Agostinho, próximo ao colégio Villa Lobos, em direção à rodoviária. Na época estávamos de passagens compradas para assistir aos shows do Blind Guardian em Santo André (o que rende um post bem extenso). E deixamos de ir de ônibus exatamente para economizarmos as passagens e saciarmos nossos vermes abdominais com o suculento caldo (não soou legal isso) do Nonô.

O Nonô possui um título invejável, até certo ponto: o de ser, por nove anos consecutivos, o estabelecimento no Brasil a deter o recorde de vendas da Caracu 300ml.


Passado o frisson pelo recorde de vendas da cerveja preferida dos que mastigam abelhas, vamos ao que interessa: o Nonô é e foi realmente conhecido pelo caldo de mocotó. O caldo forte leva, ainda fervendo, dois ou mais ovos de codorna (cruzinhos). O ovo adicional sai por R$ 0,20. E a opinião do pseudo-gourmet aqui não poderia faltar: sinceramente, é um caldo bem meia-boca. Mas os fortes que mastigam abelha que me digam: quem em BH produz com tanta confiança litros e litros diários de caldo de mocotó? Só mesmo a filial (existe mais alguma???) do próprio Nonô, na rua dos Tupis, praticamente em frente ao tradicional endereço.

Sinceramente, o mocotó fatiado em gomos gordos, acompanhado de suculento pirão, que eu aprendi na Bahia e, modéstia parte, aprimorei muito, é infinitamente mais saboroso. Mas sério, o meu não tem aquela "sujeirinha" crássica dos botecos do centrão de BH que fazem transbordar um sabor quase ritualístico e fundamental para os seus fiéis seguidores. Aliás, se investisse mais no atendimento, banheiros e, principalmente, na apresentação do prato e dos outros petiscos, o Nonô até poderia, mesmo já falecido, pleitear uma vaguinha no afamado e famigerado Comida de Buteco.

Mas sério, quem precisa de apresentação melhor do que esta:



Na foto é possível ver minha caneca de caldo, já pela metade, meus copos lagoinha, quase vazios: um de Seleta e o outro de Brahma. Na parte de cima da estufa temos ovos cozidos, um salgado que não me lembro e, na parte inferior, pedaços suculentos de toucinho frito na gordura mais "light" possível de se imaginar. No momento da foto, um sujeito bem afeiçoado, trajando terno e com cara de adEvogado, traçava sem dó dois nacos desse toucinho. Confesso: só de olhar fiquei com calafrios. Mas tudo isso faz parte do clima do Nonô, visita indispensável a qualquer turista mais empolgado com o ritual butequeiro de raiz de BH.

Nonô, tu me deves uma gruja pelo merchan.

domingo, 25 de julho de 2010

Do you like pequi???

Sou fascinado por pequi. Julho ainda nem terminou e eu já me pego a imaginar aquele cheiro adocicado, levemente “passado”, rondando a casa, me importunando no trabalho, impregnado em minhas roupas. E isso antes mesmo de o ver materializado na habitual trajetória de consumo que com o fruto estabeleço: das bandejas transbordantes de venda por litro nas barraquinhas – de rua, de estrada ou do mercado central. E este fascínio começou cedo: se existem arquivos realmente saudáveis e completos em minha memória audiovisual, um dos mais acessados é o de meus pais me ensinando a comer pequi.

“ – Broto Júnior, não morda o pequi! (Com Elis Regina cantando travessia, background sonoro dos almoços de domingo) Você deve apenas passar os dentes sobre ele, devagarinho!”, dizia mamãe. “ – Uma vez eu cravei os dentes no pequi. Minha língua ficou negra de espinhos, e, para cada um que mamãe tirava com a pinça, um puxão de orelha ou palmada eu recebia”, completava Broto Sênior. As orientações não foram em vão, já que, além de me alfabetizarem desde guri na apreciação do pequi, também fizeram aguçar minha fascinação por este fruto literalmente rodeado de mistérios – basta saber interpretá-los. E aproveito o ensejo para fornecer-lhes a minha humilde interpretação.

Falamos de um fruto cuja forma conhecida já é produto de outra, um invólucro semelhante ao abacate.



Isso! Imagine um abacate... Agora, dobre o seu tamanho, e multiplique por quatro sua “semente” gigante. Cada semente dessa equivale a um (01) pequi. Isso já é o suficiente para pensarmos em um fruto cuja extração não é das mais simples... Não é uma manga, que você colhe do pé e com os dentes arranca a casca e vorazmente devora sua suculenta polpa. O pequi não permite isso. Mas ele te CONVIDA a isso. E não por mero acaso...

Após revelado, o fruto apresenta uma textura firme, mas suculenta. Me diga, por favor: qual a reação mais óbvia frente a algo extremamente suculento? Cravar os dentes? Ah, com certeza. Acontece que, se você fizer isso no pequi, sua língua, lábios e céu da boca incharão como uma pálpebra picada por uma legião de muruins africanos. E você, em prantos, descobrirá que caiu numa armadilha digna daquelas que protegem o Santo Graal em Indiana Jones and the Last Crusade. Mas qual o motivo de o pequi ser assim tão malvado? Acontece que sua adoração, na maioria das vezes, descarta ou ignora o maior tesouro desse fruto misterioso: seu interior guarda um tipo de noz, ou castanha, de sabor inigualável, e só os conhecedores de sua existência e habilitados em sua poética de extração são privilegiados em degustar seu exótico sabor.




Logo, o pequi, antes de tudo, é um guardião fiel de um tesouro extremamente cobiçado, e que, por isso, demanda todo o tipo de proteção. Mesmo aquelas dotadas dos maiores requintes de crueldade...

O pequi possui qualidades que, para mim, são próximas às do dendê. Mas com um refinamento extremamente superior, que não deixa de lado a agressividade. Dele consumo o fruto inteiro, em pratos ou mesmo puro – apenas cozido; seu óleo eu utilizo para temperar o feijão, o frango, e até mesmo um risoto mais elaborado, durante os angustiantes meses do ano em que sua produção cessa por completo.

Parêntesis inevitável: De tão bom, e de tão único, o pequi é um dos poquíssimos frutos que, mesmo sendo adorado em algumas regiões do país, ainda, por motivos que desconheço, não fora contemplado por beneficiamentos que o permitam ser produzido e colhido mesmo fora de época. Um pecado.

Por mais que seja adorado em algumas regiões do Nordeste, como no interior do Ceará e nordeste da Bahia, em Salvador seu nome é desconhecido por grande parte da população. Qual a alternativa que eu encontrei para saciar o desejo de consumí-lo em terras soteropolitanas? Levar litros e litros na mala, para então congelá-los e, assim, garantir um estoque razoável por algumas semanas.

As fotos abaixo são de um dos vários almoços que fiz junto aos poucos que lá conheci e que não saem do meu coração. A mãe do Mano é cearense, do Crato, fã de pequi desde criancinha. Tive a difícil tarefa de preparar o fruto para paladares exigentes – o dela, enquanto profunda conhecedora do pequi, e o do filho, não tão conhecedor de pequi, mas um exímio gourmet que, de tão clássico, chega a ser chato. Mas um mestre, com carinho. O paladar do Julim é mais fácil de agradar. O da Jéssica nem tanto, mas ela gostou. Certeza. A receita é básica: frango na cachaça, arroz com pequi e jerimum cozido, acompanhado de muito alho e salsinha. E de sobremesa, claro, queijo canastra com goiabada Zélia.

Bom apetite!