terça-feira, 31 de março de 2009
Divulgando: Encontro e Festival de Software Livre da Bahia
quarta-feira, 25 de março de 2009
GAMBIARTE #1
A primeira obra selecionada é uma instalação interna, feita sobre uma cadeira perneta, engessada e mantida de pé com fita adesiva "durex". Esta serve de base para dois ventildores, sendo que um teve o pescoço totalmente estraçalhado em um acidente doméstico, perdendo completamente os movimentos inferiores. O fio de um carregador estragado NOKIA foi o material escolhido para oferecer firmeza e sustentabilidade à peça, mas sem destituí-la da leveza que os movimentos de suas pás oferecem. Já o segundo ventilador configura a interface com o fruidor, que pode retirá-lo e sentar-se em seu lugar, tendo sua percepção estética da obra valorizada pela proximidade do motor do ventilador de "cadeirinha". A experiência estética e interativa é ainda acrescida de uma peculiar tensão: ao sentar-se na cadeira perneta, o fruidor deve dispensar relativo esforço físico para evitar a destruição da obra devido ao peso suportado por esta, aumentando sua relação simbiótica com o objeto e despindo-se de todo o preconceito com este tipo de arte, através do efeito proposto em 1727 pelo esteta Benjamin Prokinakovitchu, denominado de "se reconhecer-se a própria inerência de si mesmo".
Com vocês, a Perneta que inVENTA:
quinta-feira, 19 de março de 2009
Kill the Queen
“Rainha, não sei como saístes de teu reino, e os motivos que a levam a vagar. Você até pode desejar o meu reino, mas não será neste dia, pois mesmo na escuridão de nosso tempo, hoje um amigo me deu um presente”.
Cheguei em casa cansado. Sem paciência. Estava com semi-pressa de chegar, mais do que o normal. Fui conferir e-mails, e me preparei para escrever este post: mesmo tendo o costume de escutar apenas os álbuns completos, revirei minhas pastas de MP3 e selecionei algumas canções (isso, procurei por canções, e nada mais ousado. E sim, a preparação consiste apenas nisso). Naquele momento não queria músicas que eu precisasse entender, mas sim aquelas que seriam capazes de ME entender. Será que é assim tão complicado entender que uma vez ou outra prefiro escutar a n° 4 e a n° 8? Estou MUITO chato hoje.
Atualmente as pequenas operárias não me incomodam tanto quanto no início (até porque, formiga pequena só morde enquanto somos crianças, já reparou nisso?). Mesmo a atual quantidade delas passeando pela casa é bem menor do que na época de minha mudança. Mas a de hoje tinha algo diferente, cativante. Negra, do tamanho de um pedaço do pão que eu comia e havia caído no chão. Por ironia do destino, eu e ele estávamos em sua rota de colisão. Quando nos vimos eu estava sentado em meu trono (minha polTRONA, para ser mais exato, olha a intimidade!), exatamente como um Rei deve estar. E ela, imponente como só uma Rainha pode ser, caminhava na direção do meu dedão do pé, tendo apenas como obstáculo imediato o pedaço de pão.
when we forsake our friends
and break all bonds of fellowship,
but it is not this day.
Devido ao fascínio que ela me despertou, só raciocinei para o perigo quando este estava bem perto. Mas todo seu esplendor me deixou imóvel de curiosidade. Retirei o pedaço de pão de seu percurso e aguardei para ver se tinha fome ou sede de sangue. Ela continuou vindo em minha direção! De impulso, pisei sobre ela. Antes de levantar o chinelo, pensei: “já era”. Que nada: foram necessárias umas dez pisadas bem dadas, cada uma com um requinte de crueldade diferente, para que suas anteninhas parassem de se movimentar.
when the age of men comes crashing down,
but it is not this day!
domingo, 8 de março de 2009
Limpeza dos ouvidos
Durante o carnaval meus ouvidos começaram a se fechar. Inicialmente pensei que poderia ser uma reação psicológica, um mecanismo de defesa do meu organismo frente à sensação de que trios-elétricos invadiam meu quarto, 24h por dia. Se os camaleões, Dalilas e Chicafés tiveram culpa, isso eu nunca poderei afirmar. Mas o fato é que, ao final das festividades, meus ouvidos estavam completamente tapados. Não escutava nada direito, e, como consequência, comecei também a falar bem baixinho, já que os ouvidos tapados transformaram minha cabeça em um verdadeiro amplificador valvulado. Mesmo sussurrando eu sentia estar gritando. Um garçom de um restaurante dirigiu-se a minha prima e perguntou: “Ele tem algum problema de audição?”. Fiquei arrasado.
Fui ao médico, e após 5 dias pingando um remédio, ele conseguiu me fazer escutar novamente. Não uso nem nunca usei cotonetes (como o próprio médico indicou), mas meus ouvidos estavam mesmo entupidos de cera. É nojento sentir aquele jato de água bater no fundo de sua orelha e voltar levando a sujeira. NOJENTO! Em compensação, saí do consultório com audição de super-herói. O médico logo quis me desanimar quanto a isso, mas não lhe dei mais ouvidos. O fato é que escutava até pensamento. Se não, pelo menos as sinapses das outras pessoas ecoavam quando estavam próximas a mim. Dei uns pulos tentando voar, só para confirmar se alguma outra habilidade havia surgido.
***
Acabo de me deitar para um merecido descanso após ficar quase 10 horas sentado e escrevendo. O player toca Space Die-Vest, última música do album Awake, do Dream Theater. Boa pedida para meu ritual de descanso e solidão, no qual os únicos ruídos são o som do mar, o do ventilador, do meu corpo, e claro, o da música. Minha capacidade de concentração e de relaxamento nesse ritual é incrível: após alguns minutos eu sinto música e corpo se fundirem, sem necessariamente me prender a apenas um deles. O som do mar ajuda a embalar, e o do ventilador já não atrapalha na quente Salvador. Nada me tira a concentração nesse momento. Bem, pelo menos não tirava.
De repente começo a ouvir um som diferente. Um chiado, que obedecia a um determinado padrão rítmico, com grandes pausas e ataques agudos e rápidos. Se sua ritmação colaborasse com a paisagem sonora alí criada eu não teria ficado tão incomodado. Acontece que perceber um padrão rítmico que não dialogava com nada alí acabou me intrigando, e também me desconcentrando.
Busquei identificar de onde vinha o som: poderia ser um chiar dos pratos da bateria que eu nunca havia percebido (fico feliz quando percebo algo novo em músicas que escuto há mais tempo); poderia também ser um rato fazendo barulhos dentro do armário (nunca tive problemas com ratos no apartamento, mas com tantos problemas acontecendo não duvidaria que fossem mesmo ratos); como também poderia ser o ventilador, que já apresentou chiados um pouco semelhantes. Concentrei-me nestes ruídos, não descartando totalmente a hipótese de que o barulho pudesse ser uma goteira do chuveiro, por exemplo. Mas não era.
Meu primeiro procedimento foi desligar o ventilador. Me deitei novamente, prestando atenção apenas na música e no mar (mesmo sabendo que o som não viria de lá, o mar faz parte da paisagem sonora, e a permanência de sua voz seria fundamental para diagnosticar a origem daquele ruído). O calor aumentou, e o chiado continuava.