Durante o carnaval meus ouvidos começaram a se fechar. Inicialmente pensei que poderia ser uma reação psicológica, um mecanismo de defesa do meu organismo frente à sensação de que trios-elétricos invadiam meu quarto, 24h por dia. Se os camaleões, Dalilas e Chicafés tiveram culpa, isso eu nunca poderei afirmar. Mas o fato é que, ao final das festividades, meus ouvidos estavam completamente tapados. Não escutava nada direito, e, como consequência, comecei também a falar bem baixinho, já que os ouvidos tapados transformaram minha cabeça em um verdadeiro amplificador valvulado. Mesmo sussurrando eu sentia estar gritando. Um garçom de um restaurante dirigiu-se a minha prima e perguntou: “Ele tem algum problema de audição?”. Fiquei arrasado.
Fui ao médico, e após 5 dias pingando um remédio, ele conseguiu me fazer escutar novamente. Não uso nem nunca usei cotonetes (como o próprio médico indicou), mas meus ouvidos estavam mesmo entupidos de cera. É nojento sentir aquele jato de água bater no fundo de sua orelha e voltar levando a sujeira. NOJENTO! Em compensação, saí do consultório com audição de super-herói. O médico logo quis me desanimar quanto a isso, mas não lhe dei mais ouvidos. O fato é que escutava até pensamento. Se não, pelo menos as sinapses das outras pessoas ecoavam quando estavam próximas a mim. Dei uns pulos tentando voar, só para confirmar se alguma outra habilidade havia surgido.
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Acabo de me deitar para um merecido descanso após ficar quase 10 horas sentado e escrevendo. O player toca Space Die-Vest, última música do album Awake, do Dream Theater. Boa pedida para meu ritual de descanso e solidão, no qual os únicos ruídos são o som do mar, o do ventilador, do meu corpo, e claro, o da música. Minha capacidade de concentração e de relaxamento nesse ritual é incrível: após alguns minutos eu sinto música e corpo se fundirem, sem necessariamente me prender a apenas um deles. O som do mar ajuda a embalar, e o do ventilador já não atrapalha na quente Salvador. Nada me tira a concentração nesse momento. Bem, pelo menos não tirava.
De repente começo a ouvir um som diferente. Um chiado, que obedecia a um determinado padrão rítmico, com grandes pausas e ataques agudos e rápidos. Se sua ritmação colaborasse com a paisagem sonora alí criada eu não teria ficado tão incomodado. Acontece que perceber um padrão rítmico que não dialogava com nada alí acabou me intrigando, e também me desconcentrando.
Busquei identificar de onde vinha o som: poderia ser um chiar dos pratos da bateria que eu nunca havia percebido (fico feliz quando percebo algo novo em músicas que escuto há mais tempo); poderia também ser um rato fazendo barulhos dentro do armário (nunca tive problemas com ratos no apartamento, mas com tantos problemas acontecendo não duvidaria que fossem mesmo ratos); como também poderia ser o ventilador, que já apresentou chiados um pouco semelhantes. Concentrei-me nestes ruídos, não descartando totalmente a hipótese de que o barulho pudesse ser uma goteira do chuveiro, por exemplo. Mas não era.
Meu primeiro procedimento foi desligar o ventilador. Me deitei novamente, prestando atenção apenas na música e no mar (mesmo sabendo que o som não viria de lá, o mar faz parte da paisagem sonora, e a permanência de sua voz seria fundamental para diagnosticar a origem daquele ruído). O calor aumentou, e o chiado continuava.
será que Mari vai voltar procê, thi?
ResponderExcluirde vez em quando eu acho que tenho o poder de prever o futuro...mas nem precisei ir ao otorrino pra isso...!! hehehehehe
beijo
Muito divertido esse post. Será que vc consegui escutar via internet? Vou ter cuidado com o que penso qd estiver com vc no MSN rsrsr beijos
ResponderExcluireu respondo anos após mesmo. MSN?^Lembra disso? rs. Ficávamos horas ali e no telefone... Saudadeza
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