quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Recesso do Recesso

Em 28 de abril de 2009, o post RECESSO, JÁ? anunciava um período indeterminado de paralisação deste blog, cuja principal reivindicação consistia na regulação do horário de trabalho do então “Mestrando, traumatizado e prostituído”. Seis meses se passaram. Enquanto o impasse continua e aumenta vertiginosamente, os traumas apenas mudaram de lóbulo. E o ponto, agora mais valorizado, de Salvador para Belo Horizonte. Mas hoje o sujeito-mestre-semi-pressa ignora qualquer não-resolução (apoiada em resoluções dignas de muitos e muitos posts) e relembra o usuário e a senha de 15 dígitos que, magicamente combinados com a pronúncia do termo élfico Melon, abre novamente a então pesada porta sem dobradiças deste blog.

Falando em Melon, lembrei-de de um amigo-personagem que conheci em uma de minhas muitas incursões foto-antropológicas.

(“Tango é um pensamento triste que se pode dançar”, acabei de escutar em uma matéria do Jornal da Globo de 21 de Outubro de 2009).

Seu nome é Tangho, um sujeito sonolento. Seu metabolismo baixo e sua relativa aversão aos exercícios físicos fizeram-no pensar que a única manifestação possível da puberdade consistia em saliências abdominais. Contraditoriamente, foi apenas quando tornou-se um cozinheiro compulsivo que deixou de ser um rapaz empelotado. Orgulhava-se em dizer que não mais sofria de compulsão alimentar, e sim culinária.

Compulsão Culinária

Não sei se existe registro de tal anomalia psicogenética (sua bisavó materna acordava às 03h00 para sangrar leitões e então prepará-los para o almoço das 10h30), mas o fato é que o rapaz foi milagrosamente curado da sonolência, tanto que virava a noite preparando costelas assadas, compotas de tomates-secos, tortas com fumacinha de desenho animado, temperos exóticos e outras invenções. Sua metodologia é denominada de Fé no Experimento. Negada por alguns, esta consiste em experimentar combinações de ingredientes advindos de diferentes culturas alimentares para então atribuir-lhes determinada forma – geralmente contraventora dos padrões tradicionais de utilização e preparo dos mesmos ingredientes selecionados em suas respectivas culturas alimentares.

(Juro que não pretendia fazer outra associação que desviasse o caminho do texto, mas foi inevitável. Além do mais, o caminho do texto é ele quem faz).

Enquanto pensava sobre culturas alimentares eu vi, no intervalo do Jô, um vídeo da Skol que relaciona o consumo da cerveja com o churrasco. Os atores, gordinhos, são exibidos mordiscando vorazmente pedaços de carne saída das brasas. E uma breve análise estética do histórico desses comerciais nos permite instigantes inferências:

(Um uivo de cachorro na rua me fez lembrar do chiado cortante do porco na madrugada).

1) O ritual de consumo simultâneo de cerveja e carne engorda?

2) O consumo de cerveja num butiquim favorece (apenas) a aproximação entre o cidadão-classe-média-bonitinho-gaiato e mulheres-modelo-intangíveis, imunes ao sedimento abdominal causado pela combinação alcoólico-fermentada de lúpulo e trigo, e não-frequentadoras do ritual de consumo citado no ítem 1. Esse cidadão ainda tem seu capital social inflado ao ser reconhecido, vez ou outra, como um parceiro de golo de determinado frequentador ilustre do butiquim, geralmente um sambista cafinha ou um ator há tempos fora dos papéis principais dos folhetins;

3) O consumo de cerveja nas praias brasileiras favorece a equivalência (e ascensão social) entre o cidadão-classe-média-bonitinho-gaiato apresentado no ítem 2 e as mulheres-modelo-intangíveis, imunes ao sedimento abdominal causado pela combinação alcoólico-fermentada de lúpulo e trigo, e não-frequentadoras do ritual de consumo descrito no ítem 1. Aqui, o cidadão-classe-média-bonitinho-gaiato adquire visual mais “garotão”, além de apresentar uma barriguinha moldada em forma de tanquinho, gerando a equivalência mencionada acima.

Conclusão:

A cerveja nos vende a idéia de que é a carne do churrasco o elemento engordativo desse ritual, e não a bebida. Bem, pelo menos deixa claro que beber em praias brasileiras surte nos personagens quase o mesmo efeito de uma vida regrada e beneficiada por exercícios físicos não restritos ao alterocopismo.

Para reflexão: e quando o churrasco é na praia?

Um comentário:

  1. Alterocopismo é o melhor esporte pratique !!! nós praticamos :
    http://morcegocomchocolate.blogspot.com/2010/11/virada-esportiva-2010-no-bar-brahma.html

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HEADSHOTS pseudo-acadêmicos